Título: BIOLOGIA COMO DISCURSO: SEUS OBJETOS E SUA APRENDIZAGEM NO INTERDISCURSO SOCIOCIENTÍFICO
Discente: Vanessa Carvalho dos Santos
Orientador: Charbel Niño El-Hani
Debatedor: Jonei Cerqueira Barbosa
Resumo: Apresentamos a abordagem comognitiva como um arcabouço teórico para o estudo do pensamento biológico e de sua aprendizagem e para o avanço de novas maneiras de abordar a educação em biologia. Esse arcabouço foi proposto pela pesquisadora Anna Sfard, da Universidade de Haifa, com o intuito de contribuir para a compreensão do desenvolvimento do pensamento humano em geral, usando o caso do pensamento matemático como um exemplo. Seu pressuposto básico de que pensamento é uma versão individualizada da comunicação interpessoal implica que a discursividade é uma marca característica da humanidade e que, portanto, não só a matemática, mas a biologia e todas as demais práticas humanas podem ser definidas como discursos. O objetivo geral da pesquisa foi formular, em termos do arcabouço comognitivo, uma compreensão da biologia como discurso, focalizando seus objetos e sua aprendizagem em seus aspectos intra e interdiscursivos. Foram propostos três objetivos específicos para alcançar esse objetivo geral. O primeiro, que definiu um estudo teórico, consistiu em formular uma compreensão inicial dos objetos e da aprendizagem do discurso biológico a partir de implicações do princípio comognitivo básico de que pensamento é uma forma de comunicação. O segundo objetivo específico, que orientou um estudo teórico e um estudo empírico compreensivo, foi construir um modelo da aprendizagem de biologia que se constitui na abordagem de questões sociocientíficas (QSCs). Na pesquisa em educação científica, QSCs podem ser entendidas como questões sociais, econômicas, éticas e ambientais relacionadas às ciências e às tecnologias. Elas constituem um contexto pedagógico capaz de salientar os mecanismos externos do desenvolvimento do discurso biológico, oriundos de sua interação com outros discursos. Fundamentamos esse segundo objetivo no método qualitativo, cuja escolha se justifica por termos usado os discursos de biologia de estudantes e professores como unidade de análise para compreender o processo de aprendizagem. O terceiro objetivo específico, que guiou um estudo exclusivamente teórico, foi o de refinar a compreensão dos objetos de estudo do discurso biológico a partir de um diálogo entre as definições de mediação e de realização de Anna Sfard e a definição de semiose do filósofo Charles S. Peirce. Os estudos realizados apontam para a compreensão de que os objetos de estudo da biologia abrangem objetos discursivos engendrados nesse discurso e objetos discursivos do discurso coloquial. O modelo teórico da aprendizagem de biologia no contexto interdiscursivo das QSCs aponta para a necessidade de uma dimensão axiológica na abordagem comognitiva, salientando que o discurso biológico não é apenas um discurso sobre certos objetos, mas um discurso que visa preservar alguns de seus objetos com os quais tem consideração moral-ética. Sobressai nesse contexto pedagógico uma compreensão da aprendizagem de biologia como uma interação entre biologização (participação no discurso biológico, i.e., comunicação sobre seus objetos) e identificação (comunicação sobre os participantes desse discurso). Nossos resultados parciais também apontam para possíveis refinamentos futuros no arcabouço comognitivo, no sentido de evitar um relativismo ético e epistemológico, nocivo à proposta de uma educação em biologia que visa promover uma cidadania socioambientalmente responsável.
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